segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A gota • parte 01

finalmente os contos irão virar vídeos. Segue a primeira parte de "A Gota".
http://www.youtube.com/user/moluscontos#p/a/u/1/NP5VBt-5O4c

quarta-feira, 6 de maio de 2009

AVENTUREIROS

Demorei um pouco, mas finalmente achei uma posição legal pra ler meu Huxley. Curto estes rituais para executar coisas prazerosas. Pernas devidamente cruzadas, um tapa pra abrir as portas da minha percepção, um copo de coca com gelo até a boca e um almofadão criando a lordose certa na minha coluna, quero morrer assim. Estava devorando as páginas, quando o interfone tocou. Daqui não saio, pensei. E o interfone tocou mais e mais, e ninguém atendeu. Será que todos saíram? Merda, me levantei sabendo que nunca mais conseguiria aquela posição novamente.

Peguei no fone:
-Quem é?
-VA-GA-BUN-DO. Falou o inconfundível Dentinho.
-Fala Dentinho, peraí.
Fui até o portão. Abri e ele estava com aquele sorriso de 32 dentes, como sempre.
-Vamos pra Ilha Grande, pega sua mala. Falou rindo.
Caralho, Ilha Grande era a última coisa que passava pela minha cabeça, tinha que pensar em uma desculpa rápida, mandei:
-Porra Dentinho, Ilha Grande porra nenhuma, vai chover. Olhei pro céu e apontei pra meia dúzia de nuvens poluídas.
-Tu tá maluco! Vambora porra. Mulheres, bagulhinho, breja, arrumei uma barraca responsa, vambora!

Opa, ele estava quase me convencendo, mas tentei de novo: - sem grana Dentinho.

-Grana pra quê? A gente fica na barraca, meu pai leva a gente até Bangu e lá a gente pega um bumba. Vai gastar merreca. Daqui a 30 minutos passo aqui pra te pegar. Mulherada Molusco, mulherada. mais.

Ok, ele me convenceu: -Vou arrumar minhas coisas, mais.

Joguei duas camisas surradas, duas bermudas, um par de chinelos velhos, sabonete phebo, quadriderm pra cuidar das mirrancas, shampoo 2 em 1, escova e pasta de dentes. Mala pronta, opa, faltou o Huxley que estava lendo. Hmmm, faltou também um walkman com caixinhas pra rolar uma festinha na barraca. Se bem que festinha sem vinho não dá. Agarrei um sangue de boá tinto suave. Agora sim, mala pronta.

Dentinho buzinou como um louco e partimos rumo a Bangu. Reparei que Dentinho também tinha uma mochila lotada de coisas, mas não vi barraca. Estranho.

Quando saímos do carro, pai de Dentinho abriu a mala da fuca e vi um saco de lona, com algo semelhante a um corpo dentro.

-Dentinho, vais esquecer a barraca. Falou rindo, tal pai, tal filho.
-É mesmo, hahaha, imagina. Me ajuda aqui Molusco.
-Tá de sacanagem que a barraca é isso aí? Tem um defunto aí dentro.

Comecei a puxar da mala, e era mesmo o peso de uma pessoa, que merda de barraca.
-Porra dentinho, era mais fácil a gente levar tijolos e cimento e fazer uma casa lá. Falei puto.
-Deixa de ser bicha, vamos fazer o seguinte, você prefere levar ou trazer? Perguntou Dentinho.
Não sei porque não sugeri que dividíssemos o peso, dei mole.
-Prefiro levar. Assim você se fode na volta.
-Tudo bem. Toma que o filho é teu.

Filho gordo. Estava arrastando aquela merda, mas pelo menos o tempo estava lindo, o fim de semana prometia de fato. Dentinho mandou bem.

Pegamos um ônibus que ia até Angra dos Reis, já estava cheio quando entramos. A barraca ocupava o espaço de uma pessoa de pé, engraçado. Quando chegou em Campo Grande o ônibus contrariou a lei da física que dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. Era simplesmente o ônibus mais cheio que vi em toda vida, meus pés não tocavam mais o chão, via apenas cotovelos, bonés, enxadas, bocas com dentes intercalados, tinha um leitão berrando ao norte do ônibus. Filme de terror. Algumas horas depois chegamos a Angra. Saí do bumba totalmente suado e fedendo, arrastei a barraca como o pagador de promessas e compramos duas passagens de traineira. Estávamos próximos do paraíso. E o Sol lá, nos acompanhando.

Depois de uns vinte minutos chegou a tal embarcação que nos levaria ao paraíso. Uma porra de um barco velho pra caralho, com uma cabinezinha pro piloto e mais quatro pessoas, a pintura totalmente ralada e do lado estava escrito “Corajoso”.

-Aí Dentola, na boa, essa porra vai virar. Falei bolado.
-Vai nada, ô o nome ali, Corajoso.
-Isso é o nosso nome se subirmos nessa merda. Falei muito bolado.
- Tá maior bicha hoje hein? Vambora porra. Falou Dentinho pulando no barco.

Pulei também, tinha umas doze pessoas no flutuante, todos na casa dos vinte e poucos anos, uns malucos, uns caretas, umas mulheres mais ou menos, nenhuma gata. Quando nos afastamos uns cem metros, o piloto gritou: -ACENDE PORRA!

Um hippie disfarçado de careta me puxa um baseado gigante em forma de cone e taca fogo. Rodou o barco inteiro como uma tocha olímpica, quando chegou no piloto, ele segurou por algum tempo aí gritaram não sei de onde: -Trabalhou na superbonder piloto? Libera aí!
-Hahahahaha, se ficar reclamando, dou um cavalo-de-pau com essa porra hein? Falou rindo pra caralho.

Chegou finalmente na minha mão. Dei aquela carburada V6 e passei pra Dentinho, que estava com mais dentes que o normal. Ele puxou como um compressor e passou pra frente. É, tinha mais tamanho que força, sou mais o nosso, pequeno e eficiente.

De repente escuto o piloto berrar: -Segura que vem tempestade.
Caralho, impossível crer que há cinco minutos estava um céu lindão. São Pedro com certeza botou um estagiário pra pilotar as alavancas e vazou. Estava tudo negro, o dia virou noite.

Começou a chover muito, uns pingos tipo moedão batia e doía, ok, estava crazy, mas a dor era de verdade. A galera se juntou na cabine, que parecia agora o bumba de Bangu e não sobrou espaço pra gente. Consegui encaixar nossas mochilas no meio da muvucada e roubar uma carburada com o bico molhado, mochilas secas pelo menos.

Ficamos isolados como cães leprosos e totalmente molhados.
-Não falei que ia chover? Disse puto pra Dentinho.
-Chuva de Verão, dacapouco passa. Falou Dentinho, tremendo.

Uma hora depois a chuva estava mais torrencial que nunca. Maldito Dentola, mandou mal.

Ondas gigantes faziam o precário barco ranger e balançar de uma maneira que estava quase me cagando, Dentinho estava petrificado. O piloto doidão estava amarradão com a adrenalina e falava com um sorriso amarelo: -É nós Corajoso, é nós, agüenta firme porra. As pessoas da cabine pareciam zumbis calados e colados uns nos outros, olhos arregalados. Aos poucos o mar foi acalmando, e a chance de sobrevida aumentando. Voltamos a falar.

Finalmente chegamos ao destino, praia de Aventureiro. Como o barco não conseguia se aproximar muito da areia, tive que arremessar a barraca, que agora pesava dois corpos, por conta da chuva. Obviamente não obtive êxito e acabei por submergir nossa casa. Já as mochilas, Dentinho conseguiu levar até a areia numa boa.

Andamos molhados e cansados até o camping, que ficava atrás e uma modesta igrejinha. Para chegarmos lá, precisamos atravessar uma ponte sobre um rio com as margens repletas de bambus secos e pontiagudos, parecia armadilha inca. Sinistrão.

Escolhemos um canto para armar a barraca. O peso justificava o tamanho, era ma cabana exageradamente grande. E a quantidade de ferro? Puta merda.

Terminei de prender a última lona. Legal. Arrumei a mala, liguei o walkman nas caixinhas e pude sentir o Sol voltar a brilhar lá dentro da barraca sob o som dos Secos e Molhados. Nessa hora, abri o zíper da porta e enfiei a cabeça pra fora, e inspirando aquele ar puro, falei:
-Puta merda, o dia estava que nem a banda. Mas agora tá lindão. Que dia!

Quando acabei de falar, veio um mosquito do tamanho de um pardal e picou meu olho direito, que, em 5 segundos ficou parecendo que tinha um implante de bola de golfe na pálpebra. Pergunta se doía?

Dentinho se virou pra mim e berrou: -CARALHO!!! O quê houve com teu olho? UAAAAHHH!!! Tá igual ao Amaral! Vai pegar ninguém!!!
Porra, Amarola pegava aquela japa gostosa. Tinha esperança, mas que tava bizarro, tava. Resolvi apertar um pra esquecer.

-Aí Dentinho, vamos torrar unzito?
-Belê, mas vamos sentar lá na areia? Falou Dentinho já andando na frente.
Chegamos na areia e fomos para o canto esquerdo, perto do início da mata. Sentamos e começamos a carburar contemplando o visual. Ilha Grande é foda.

Olhei em volta e vi mais grupos sentados torrando um. Ali percebi que se, as pessoas se confraternizassem mais, o mundo seria bem melhor. Todos estavam rindo e discutindo diversos assuntos e rolava uma energia boa movida pela brisa. Estava amarradão, mesmo com um olho só.
De repente, sai um cara de dentro da mata. Era um gordo quarentão, com bigode e cabelos brancos, chapéu Panamá, bermuda branca e uma camisa florida vermelha, tipo Magnum. Um clássico clichê de turista, e falou:
-Aí, escondam as drogas que a polícia vai dar uma megablitz. E foi andando rápido.
-Molusco? Eu doidão ou você também viu o Magnum gordo? Perguntou Dentinho.
-Não só vi, como ouvi ele falar de uma megablitz aqui na praia.
-Megablitz? Huahuahua. Aqui em Aventureiro? Porra, impossível. Se isso acontecer, é porque o mundo está realmente acabando. Que viagem. Falou Dentinho.

Ouvi um barulho na canhota e quando me virei vi uns vinte policiais saindo da mata. Eu tinha acabado de dar uma megaultraninjacarburada, e literalmente e sem saber explicar como, engoli a fumaça. Dentinho enterrou o cigarro, ainda acesso e fez um leve X pra marcar a posição. Chegaram os porcos.

-Documento? Falou um gordo marrento.
-Aqui. Mostrei a identidade. Ainda estava exalando um pouco de fumaça, parecia um dragão.
-Cadê o bagulho? Fez pressão o policial em cima de Dentinho.
-Acabou de acabar, não posso mentir para o senhor. Falou Dentinho.
-O que é isso no teu olho? Tá feião! Debochou o soldado Elias-pela-saco.
Pensei: -É o rabo da sua mãe.
Falei: -Mosquito me pegou.

Os caras revistaram a gente e não acharam nada. Outros porcos enquadravam outros grupos. Uns subiram até as barracas com os donos, olharam várias barracas. Tinha gente gritando, gente correndo, um show de horror. Eis que surge um bote motorizado da polícia e atraca bem perto da areia. Algumas pessoas foram levadas, possivelmente irão para delegacia de Angra. A paz reinou até a chegada da ordem. Quem inventou isso?

Aos poucos os policiais foram sumindo, fiquei deprimido. Fui até o X e desenterrei nosso tesouro. Reacendi o baseado e socializei com Dentinho. Senti falta dos grupos rindo e filosofando. Merda de mundo careta. Voltei para o camping.

Paguei um banhão e Dentinho também. O camping oferecia um belo chuveiro de água fria. Estávamos prontos para o ataque, se bem que com esse olho...
-Aí Dentola, tá muito escroto meu olho?
-Quer ouvir o quê? Perguntou Dentinho.
-Ok. Respondi sabendo a resposta.

O dia já era noite e fomos caminhando pela areia, Dentinho falou que mais à frente tinha uma lona com cervejas e mulheres.
-Acende lanterna aí Molusco. Falou Dentinho.
-Serve uma tocha? Lanterna não tem. Estava ficando muito escuro.
-Serve. Respondeu Dentinho.

Acendi um braço gigante e perguntei para Dentinho:
-Falta muito, papai smurf? Passei o braço pra ele.
-Falta, meu filho. Respondeu e carburou como um Opala velho.

Andamos na areia no meio da escuridão, seguindo uma luz lá longe. Andamos uns 10 minutos. Não estava sentindo nada.
-Fallltaaaa mmmuuuuito, papaiiii smmmuuurf? Passei a pontinha ele.
-Falllllta, mmmeeeu filho. Respondeu tossindo, e vuuuuuuuusshhhhhh, acabou.
-Morreu. Falou Dentinho.
-Éhh. Falei.

Eis que sinto os pés molhados. Opa, era o mar. Caralho, a luzinha que seguíamos a não sei quanto tempo era a porra de um barco lá na casa do caralho. Putz, fiquei confuso.
-Dentinho, a gente tá seguindo um barco.
-Olha o trailler aqui, maluco. Falou.

Quando me virei tinha simplesmente um trailler com uma mesa de sinuca, sonzinho e uns machos bebendo. Como não vi essa porra toda? Foda-se.

Cheguei pro cara do bar e pedi:
-Me vê uma Skol mais gelada do mundo.
-Só tem schin e tá meio quente.
Como assim? Andei esse tempo todo com o olho doendo pro cara não ter uma breja decente? Que foda.
-Tem capirinha?
–Não.
–Tem cachaça?
–Não.
– Tem o quê então?
– Tem rum Montilla.

Olhei para o rótulo e vi aquele maldito pirata com seu papagaio no ombro. Imediatamente deu um déjà-vu, vi eu e Testão tomando uma garrafa inteira na beira da piscina. Estranho.

-Me vê essa merda com Coca-Cola e gelo.
-Não tem Coca-Cola.
Como assim não tem Coca-Cola? Se tem Coca-Cola em Cuba, tem que ter aqui.
-Tem Baré Cola, vai querer?
-Vou.
-Mas não tem gelo. Falou o cara.
-Tá gelado?
-Tá igual a cerveja. Falou.
-Então me vê a cerveja e dois copos.

Peguei e fui até Dentinho, que estava apoiado numa coluna de madeira. Dei o copo de geléia e servi a gente. Dentinho berrou:
-Porra Molusco, Schin é foda!
-Humhum.
-E tá quente. Ficou maluco?
Ri.

Olhei pra areia e vi alguns machos disputando o posto alfa. Dois estavam embolados na areia, meio que lutando jiu-jitsu. Um era estilo marombado idiota e o outro era meio gordo, cara de surfista esporádico. O resto, uns cinco ou seis em volta, gritavam e falavam o que os lutadores deveriam fazer. Rolava uma aposta, eu acho. Já estavam ralados da areia.

Depois de duas cervejas, chega a primeira fêmea. Muito mais ou menos por sinal, loira com cara de desgastada, meio magra, feinha, mas era a única peça. Pelo visto essa noite vai ser maior furada. Olhei de novo pra guria, e Dentinho já estava colado trocando idéia com a boca cheia de dentes. E eu com esse olho me matando e queimando meu filme. Resolvi voltar.

-Dentola, vou voltar. Falei. Dentinho estava no maior papo com a estranha.
-Beleza, vou marcar um tempo aqui. Falou rindo.

A volta estava ainda mais escura, ainda mais caolho. De repente começou a chover. Que sorte a minha, pensei. Andei, andei, andei e dá-lhe chuva. Andei, andei e perguntei pra mim mesmo:
-Falta muito papai Smurf? Ri e logo depois me senti um idiota. Andei e andei.

Reparei na igrejinha no meio da chuva e neblina. Será aqui? Fui andando para os fundos, apressei o passo, desejando uma toalha sequinha. E tava foda de enxergar, apertei mais o passo e..... UAAAAHHHHH, VRRUISSHHH. Cai na armadilha Inca. Era aqui mesmo.

O que é um peido para quem já está cagado? Me ralei um pouco e dei sorte de não enfiar um bambu na barriga. Imagina, Dentinho falar lá em casa que morri espetado num bambu. Que merda.

Foi foda sair dali, mas consegui. Resolvi não dar mais um passo enquanto não enxergasse, podia morrer. Esperei, esperei. Até que de lá longe, avistei uma luz. E vinha na minha direção, e dá-lhe chuva.

-Opa, quem vem lá? Perguntei. E uma voz suave respondeu:
-Cíntia. Quem Fala?
-O Guardião do camping. Você pode me dar uma carona na sua lanterna? Pedi.
-Claro, vamos lá, me siga. Falou passando.

Eu não enxergava absolutamente nada e peguei em sua mão. Boa textura. Algo me preocupava, ela não podia ver minha cara-que-escondia-uma-goiaba-dentro-do-olho. Tinha que ficar nas sombras, evitar a lanterna.

-Tá chovendo muito ? Falei qualquer merda pra puxar assunto.
-Muito mesmo, ensopada. Se lamentou.
Dava pra perceber pela silhueta um saião hippie, legal.
-Só mesmo um vinho pra esquentar, não? Mandei.
-Quem dera. Mandou.
-Tem um Sangue de Boi tipo exportação lá na barraca, tá afim? Joguei.
-Demorou. Topou.

Sinal de alerta. TU! TU! TU! Foi muito fácil, algo não me soava bem. Será que Deus depois de um dia de fúria do mar, dos insetos e das nuvens, me recompensaria com uma ninfa perdida no meio do nada, na madruga e ainda fácil fácil? Ahhh... e uma barraca só pra mim? Obrigado Senhor.

Abri o zíper da barraca e falei:
-Primeiro as damas.
-Obrigada.

Arrumei o espaço e sentamos no colchonete. Ela pôs a lanterna entre a gente e desligou. Ufa. Peguei o vinho, o saca-rolha e dois copos descartáveis. Liguei o walkman na caixinha e aumentei baixinho. Cássia Eller fez o fundo.
Servi a gente.

-O quê você faz da vida? Perguntei.
-Faço veterinária na Rural. E você?
-Faço História da Arte.
Uau! Que legal. -Tem um baseado aí?
-C l a r o! E materializei um imediatamente.

Estava tudo muito bom, e isso era um contra-senso. Precisava ver a cara dessa ninfa. Peguei a lanterna como quem não quer nada, acendi e mirei nos cornos dela. Mas ela, tão rápida quanto um bote de cascavel, desviou a luz. E num ato de reação, ela pegou a lanterna de mim, tentou mirar nos meus cornos. Também fui rápido e desviei a tempo. Ela também estava curiosa. Merda.

Tentei o ataque mais uma vez, e se repetiram os fatos. E isso tudo com a tora passando para lá e pra cá. Habilidade.

Até que ela deixou cair aceso em cima do lençol.
-Ihhh, fiz merda. Falou.
Eu me aproximei pra tirar as cinzas, e já fui dando um cheiro naquela pele. Fui subindo pára lascar um beijo quando:
-MOLUSCO! Abre aí porra! Berrou Dentinho.
-Tô com visita. Dá um rolé. Berrei.
-Abre porra. Tá chovendo pra caralho! Berrou.
É verdade. Abri.

Entrou Dentola todo molhado falando:
-Boa nooiiittteee! E se sentou na roda. Pra variar, cheio de dentes.
-Cheguei na hora boa, vinhozinho, blackzinho, qual seu nome? Perguntou Dentola com todas as más intenções. Filho da puta raberador.
-Cíntia, tudo bem? E o seu? O dele eu sei que é Guardião do Camping.
-Me chamo Dentinho, sou amigo desse puto há um século. E aí, rola esse veneno pra cá, estou todo molhado.

Dentinho deu uma carburada que deve ter deslocado o pulmão, pressionou pra caveira e ficou crazy instantaneamente. Um faixa-preta.

Cássia Eller deu a vez para Pink Floyd, que desceu como uma marreta em todos nós, consagrando a chapação e nos teletransportando pra outra dimensão, uau!

Deitei, Cíntia deitou com a cabeça pra outra ponta. Dentinho, meu amigo há um século, acompanhou a direção de Cíntia. Cheiro de rataria. Ok.

Ela imediatamente virou de costas pra mim e de frente para Dentinho, sem falar que eu estava com a cara nos pés dela. Podia ter atacado os pés mesmo, mas sei lá onde ela enfiou essas porras.

Percebi que estava em desvantagem e “flipei” pro lado certo como um golfinho de Miami. Beleza, ela agora só estava de costas pra mim. Dentinho já alisava seu cabelo. Rato.

Segurei na cintura dela e comecei a alisar, ela não reclamou. Sua mão foi pra minha cintura e começou a me alisar também, estava ficando bom. De repente ela vai e aperta a minha bunda com força, legal. Fui alisar o braço dela e, CARALHO, era o braço de Dentinho, cheio de cabelo.

-QUE PORRA É ESSA DENTOLA? TÁ MALUCO? Berrei.
Ele saltou de susto e falou: - Caralho, foi mal mesmo. Achei que fosse ela.
-Olha lá, hein!? Falei meio bolado, sabia que era seqüela. Espero.

A derradeira foi quando Dentinho achou a bunda dela e ela começou a corresponder, estavam se atracando a vera e fiquei de bucha, de fora da brincadeira e ainda por cima ouvindo coisas desnecessárias. Merda de situação. Resolvi me afastar o máximo que pude e dormi no canto, de costas para o acasalamento.

Acordei como um cachorro, me esticando e bocejando. Língua seca e o olho esquerdo, que era o único que funcionava, se abrindo lentamente para contemplar mais um dia nesse mundo estranho. Meu olho não acreditava no que via. Cocei ele pra dar uma enxaguada, e realmente era o que era.

Cíntia, era na verdade, o BARBOSA DE CALCINHA! SIM, O BARBOSA DO TV PIRATA! Caralho, ela era, muito, mas muito feia. Estava fora de esquadro, magrinha, com 2 ml de peitinhos, e um queixo, um queixo que vou falar, um queixo gigantesco, estilo Mandíbula do He-man. Mas senti que rolou um love forte com Dentinho. Eles estava de conchinha, tipo namoradinhos, coisa linda de Deus.

-Psiu! Dentinho, ô Dentinho! Falei baixinho.
-Hmmmm, o que é? Respondeu sonolento.
-Você pode abrir teus olhos um segundinho? Pedi.
-Hã?! O que você tá falando?

Cíntia ou Barbosa, se ajeitou com o barulho e ficou de frente pra Dentinho.
-Agora Dentinho, abre teus olhos e veja que coisa linda, parabéns velhão.

Dentinho abriu os olhos já arregalando com o que viu, fez uma cara de espanto muito verdadeira, mas não emitiu um som, um Lorde.

No mesmo instante, Barbosa também abriu os olhos, deu um sorriso com sua mega mandíbula e um beijinho de bom-dia. Dentinho estava apavorado.

-Bom dia gente. Vou ali pegar um café com leite. Falei.
-Eu vou com você. Tentou escapar Dentola. Ninja.
-Que isso? Namorem mais um pouquinho. Eu trago um lanchinho pra vocês. Você gosta de café-com-leite, Cíntia?
-Gosto sim. Respondeu.
-Então, eu trago pros dois. Agora aproveitem essa manhã bonita. Fui.
-Boa idéia. Vem cá Dentinho. Falou cheia de intimidades. Pobre Dentola.

Conforme ia abaixando o zíper, ia percebendo o olhar de desespero agudo de Dentinho, parecia que estava soltando ele num abismo. Legal.

Fui até o trailler e pedi um café-com-leite. No radinho da birosca, tocava The Sundays cantando wild horse dos Stones. Pensei:
-Porra, nunca ouvi essa música numa FM lá no Rio. Que foda! Esse lugar é mágico mesmo, tem de Sundays à Barbosa.

Mexi meu café com calma, alisei minha bola de golfe, olhei para o mar com um olho só e dei uma golada.

O dia estava lindo e o café estava frio.

Isso resumia tudo.

FIM

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O EXORCISMO DE CARLINHO SATÃ


Aquele sábado de sol prometia uma noite brilhante. Carlinho Satã tinha descolado duas gatas (segundo ele) pra gente se divertir um bocado e eu aproveitara aquela tarde de junho para dar um trato no porcomóvel. Quanto mais esfregava, mais percebia que cada um tem o calhambeque que merece. Já suava como uma capivara, mas no fim tudo valeria a pena, eu acho.

-Porra, tu tem que ver a Leandra, é maior filé. Se pronunciava Carlinho. –Nem faço questão de pegar, até porque tem a Karen, que quebra a firma geral.

Eu conhecia aquele imundo, e sabia que estava deixando claro que o lance dele era a Karen, que devia ser bemmm melhor que a outra, como eu não conhecia nem uma, nem outra, estava pouco me fodendo, queria apenas diversão. E ele lá de pé, me olhando e falando com aquela voz de pato rouco, enquanto eu esfregava a caranga mais vezes que o Daniel San.

As oito já estava arrumado e fui pegar o Carlinho. A gente de fato não faz muito o estilo “modelo de beleza” que a TV vomita na galera. Carlinho estava uns dez quilos acima do peso, tinha o cabelo gigante enrolado e olhos foscos, usava uma calça jeans surrada muita coisa, uma camisa de listras da Mesbla e um tênis de educação física cagado de lama. Eu também estava acima do peso, branco como um leitão cabeludo e vestia uma calça cinza feia demais, sem cueca, uma camisa do Dinosaur Jr com uns furos no suvaco e um tênis todo cheio de silvertape pra não desmontar. Estávamos devidamente perfumados e com pouco dinheiro pra variar, viva o limite do mastercard. Saímos confiantes.

As mulheres moravam na Mallet, mais precisamente em um prédio amarelo grande, em frente a uma praça mal iluminada, com bancos quebrados, mato alto e alguns bêbados fedorentos jogados pelos cantos. Parei a caranga embaixo de uma árvore, agora era só esperar. Marcamos às 9 horas.

Pude observar nesse tempo, algumas pessoas que passavam pelo carro. Vi um velho curvado que falava sozinho, uma grávida de uns 13 anos vestindo uma roupa para 8 anos e um moleque soltando pipa no escuro. Tinha também um coroa com uma gaiola coberta por um pano branco. As pessoas se tornam zumbis em algum momento da vida, espero não passar por isto.

Às nove em ponto, surgem duas mulheres vindo na direção do carro. –Ó elas aí! Fala Carlinho animado.
Uma mancava e outra parecia mais esférica que o próprio Carlinho. Tomara que a Leandra seja a manca, pensei. Tinha um bolação com as gorditas. Meu amigo Dentinho me contou uma vez, sobre um ataque que sofreu no morro da Sulacap, uma gorda enfiou ele dentro dela a força. Pobre Dentinho.

As mulheres passaram por nós e seguiram seus rumos, não eram elas. Carlinho testava seu humor negro em mim. Ufa, ainda bem.

Vinte minutos depois, surgem duas mulheres na contra-luz do prédio, se apresentavam com silhuetas bastante interessantes e se aproximaram. Carlinho tinha finalmente acertado a mão, eram pós-ninfetas com seus vinte e poucos anos. Conheci então a sorridente Leandra, com seus cabelos escuros enrolados, aluna de educação física, peso certo com gordura certa e um dente quebrado na quina, dando um charme ou pala que precisava consertar, não sei ao certo. Vestia uma calça jeans abaixo da cintura, uma sandália riponga e uma camiseta branca que denunciava a falta de sutiã. Curti. Já a Karen era A mulher de bandido. Vestia uma calça branca enfiada no rabo, com suas picanhas saltando por cima da cintura, um cinto preto e dourado, uns brincos de argola também dourados, uma blusa preta com um nó. Tinha peitos grandes e cabelos amarelos, maquiagem exagerada e uma cara de burra escandalosa que gostava de apanhar. Carlinho curtiu.

Sentaram Carlinho e Karen no banco de trás, eu e Leandra na frente. Antes de virar a chave, perguntei: -e aí, pra onde vamos?
-VAMOS METER PORRA! Berrou Carlinho, como um babuíno ensandecido.-Vamos prum teltel!

A arte de me constranger. Bicho maluco, como ele fala assim desse jeito. Tinha apenas me apresentado, não trocara nem uma palavra ainda. Carlinho ia foder com tudo, isso sim, que merda.

-Demorou! Falou Karen. –Se não for no Taba, tudo bem.
Caralho, o mundo acabou. Pensei. Mas também com esse estilo, não esperava ouvir outra coisa. Mas o Taba era uma merda mesmo, a última vez que fui lá, não dava pra abrir a porta do quarto, porque tinham dado um jato na maçaneta. Merda de motel.

-É, no Taba é caído, lá eu tô fora. Rebateu Leandra.
Caralho, o mundo acabou de verdade, me senti um puritano careta recém saído do monastério. Então contribuí: -Vamos pra rua dos motéis, lá na Barra?
-Vamos! Berrou um coro. Partimos alegres.

Passamos em um AM/PM da vida e pegamos umas longnecks pra ir mamando no caminho. Quando o som começou a rolar, fui duramante repreendido pela Karen, que segurava a garrafa com a mão direita e o pau de Carlinho com a conhota.

-Que merda de música, chata pra caralho! Põe algo bom aí Molusco.
-Eu gosto. Por mim, qualquer coisa agrada, desde que não seja funk. Falou Leandra ganhando pontos comigo.
-Fala sério Leandra, parece música de velho. Desdenhou Karen.

Bem, desde de que ouvi pela primeira vez, sempre tive certeza da qualidade do Cure, que agora foi resumido como merda de música. Pictures of you uma merda de música? O quê aquela vaca punheteira estava falando? Música de velho é foda! Troquei a fita pra algo mais porrada e fui esculhambado de novo.

-Tá maluco Molusco, essa merda não dá pra dançar.
Tá de sacanagem, eu danço Nirvana até vestindo um escafandro. Porque ela não mete o pau na boca e fica quieta. Mas ela não parava de falar.
-Então diz aí, o quê você quer ouvir? E você, Leandra? Perguntei.
-Ah, qualquer coisa, desde que não seja funk. Falou perdendo pontos comigo.
-Mete um Só pra contrariar. Falou Karen.
-Hahahahahaha, só pra te contrariar não vai rolar. No dia que eu ouvir essa merda, você pode me dar um tiro nos cornos. Coloquei um Raimundos pra me acalmar, ela ouviu e gostou. Idiota.

Parei o carro antes da rua do motel, Carlinho e Karen se jogaram na mala. Queríamos pagar um quarto e beber o outro. Conseguia falar com Carlinho através do buraco do twitter que nunca existiu.

-Molusco, tá me ouvindo? Anda que aqui tá foda.
-Guenta aí maluco, relaxa. Falei virando o carro no primeiro motel, que estava lotado. -Tá tudo lotado Carlinho.
-Aí Molusco, achei uma garrafa de vinho, tava malocando né? Falou Carlinho pelo buraco.

Vinho, que vinho? Que porra de vinho que o Carlinho achou? CARALHO, não pode ser! Será o vinho de quando fui pro Sana com Marrisso? Essa merda deve estar uns 10 meses na mala.

-Satã, não bebe essa porra não, isso tá podre! Falei.
-Podre tá teu rabo! Tem até uns sanduíches. Tava escondendo rango? Maior vacilo!
MINHA NOSSA SENHORA! Os sanduíche de patê também da viagem do Sana.
-Carlinho, para de comer essa merda! Berrei.
-Tá gostosão, com esse vinho então... Mandou.

Eu apenas via seus lábios roxos de vinho saindo pelo buraco e falando cuspindo vários pedaços de plus-vitta. Filme de terror. E nada de motel ainda. Era semana do dia dos namorados e a galera resolveu meter. Carlinho deu uns arrotos e todos riram.

Finalmente depois de 8 motéis lotados, consegui uma vaga no XáXáXá.

-Amigão, me vê um quarto com garagem por favor? Pedi pro recepcionista.
-Boa noite, toma aqui a chave. Segue até o fim, é aquele bem de frente pra cá. Apontou uma longa reta.
-Obrigado. Parti com o carro e reparei pelo retrovisor que o recepcionista não parava de olhar pra mala e coçar o queixo. Porra, o gordo do Carlinho devia estar empinando o carro junto com aquela vaca loira na mala. Vai dar merda, pensei.
Passei pelo primeiro de uma série de quebra-molas, e ouvi algo na mala, um grunido. Porra, o Carlinho já devia tá metendo.
-Porra Zé Cú, vê se não faz barulho aí. Falei.

Passei por outro quebra-molas e de novo um som gutural. Estava estranho.
Entrei na vaga, saltei da caranga e arriei a porta da garagem. Pela fresta entre a porta de metal e a parede, pude ver o recepcionista boladão vir na nossa direção. Fodeu.
Abri a tampa da mala e falei baixinho:
-Aí, vou fechar aqui, se finjam de mortos aí, porque tá vindo o recepcionista com uma cara de que foi enrolado. Bati de novo a mala. Subi com Leandra e marquei 10 minutos num esquenta legal. Resolvi descer pra liberar Carlinho e Karen.

Conforme vou descendo a escada, vou ouvindo uns sons que se transformaram em vozes.
-Eu juro, não sei como fui parar na mala.....
-Ah meu amigo, vê se tenho cara de idiota...
-Não, é que estou muito doido...

Fui enxergando todos de baixo para cima. O recepcionista puto, que enquadrava Carlinho. Este, que já estava fora da mala, e ao lado dele, Karen, totalmente vomitada, com vários pedacinhos de pão espalhados pelo cabelo, rosto e blusa. Puta merda.

-Puta merda Carlinho, o que houve? Perguntei.
-MOluscooooo!!!!! Berra Satã doidão. –Você passou pelo quebra mola, aí não agüentei....Ainda tampei a boca, mas saiu tudo pelo nariz. Foi tudo na palhaça dela. Riu com os olhos pequenos.

O cara muito puto falou:
-Quero que vocês saiam agora porra. Vão embora rápido.
-Deixa ela lavar o cabelo. Pedi.
-Lavar na puta que pariu. Fodam-se vocês tudo.

Entramos na caranga e saímos do XáXáXá sem meter, graças aos gordos na mala.
O cabelo de Karen parecia uma árvore de natal do inferno, fedia como um bode morto. Fomos na praia pra ela lavar o cabelo. Trash total, não sei quem deu essa idéia idiota, e ela voltou com uma palha no lugar do cabelo, coisa horrorosa.

-E agora, o quê faremos? Perguntei.
-Meter porra! Berrou Carlinho com a camisa manchada de vinho.
-Tá maluco? Berrou Karen. Com esse cara eu não meto, ele chamou o Raul em mim.
-Qual é Karen, a gente precisa compensar, me dá um beijo.

Carlinho voltou e pegar a Karen. Porra, achava que nunca veria algo tão inusitado. Um bafo de patê podre com vinagre beijando na boca da Carla Perez bizarra, e prestes a meter, ê mundo legal.

Voltamos para Intendente Magalhães, no caminho Leandra mostrava toda sua desenvoltura manual e Karen estava com algo na boca que a impedia de falar algumas merdas. Resolvemos invadir o Shelton motel, quase bom, quase bonito e quase barato.

-Seguinte, cada um vai pegar um quarto, ok? A gente não pode correr riscos de outra fatalidade. Falei pra galera.
Entrei com a caranga e pedi pro recepcionista: -Boa noite amigo, vê 2 quartos, pode ser sem garagem mesmo.
-Aqui está, 302 e 203.
-Quer qual Carlinho?
-Me vê o 203. Pegou a chave, saltou do carro com a Karen e subiu, parceiro. Estacionei e subi com Leandra.
Quartinho honesto, das antigas. Spots coloridos por baixo da cama redonda, controle dos rádios num painel em aço escovado um banheirinho confortável, valia R$29,90 fácil.
Sintonizei numa goodtimes da vida e Leandra veio dançando do banheiro com um breja na mão e peitos de jujuba no pudim. Me empurrou na cama com o pé e pulou de pé sobre mim. Dançava como uma enguia louca, desabotoando com elegância a calça, que já mostrava uma calcinha de algodão devidamente posicionada para atiçar meus demônios. Rock and roll. Jogou cerveja na minha cara e arrancou minha roupa com fúria. Ok, vamos jogar.
Daí, o telefone do quarto toca. Como assim, o telefone toca? Foda-se o telefone, deve ser engano.
Voltei pro game, que estava quentíssimo. O telefone parou. Ótimo.
A estética feminina é a prova concreta da existência de Deus. Gosto de chafurdar, estava chafurdando. O telefone toca de novo. Merda, como me concentrar assim?
-Melhor atender essa merda. Falei e levantei de pau duro.
-Ahhhh.....Retrucou Leandra.
-Alô!
-PELAMORDEDEUS MOLUSCO, CORRE AQUI, O CARLINHO TÁ MORRENDO!!
-O quê? Como assim? Karen?
-PORRA, QUEM VOCÊ ACHA QUE É? CORRE, ELE TÁ DANDO CHOQUE! CORRE!

Saí descaralhado pelo corredor. Estava enrolado numa toalha. O que houve desta vez?
Cheguei no 203 já entrando direto. Quando vejo, está Karen em um canto do quarto, de pé, enrolada no lençol, com os olhos arregalados chorando e berrando:
-Olha ali Molusco, olha ali, ele tá morrendo!

Caralho, o Carlinho tava deitado nu na cama, seu cabelo estava todo de pé, inclusive os cabelos do braço, ele estava consciente, mas estava grogue, parecia muito louco.
-MOoollllusscccoooo........ Ele agarrou em mim, e eu tô dando choque, ó isso. Aproximou sua mão esquerda no braço direito, e saiu umas fagulhinhas, tipo aquelas fagulhas que saem do click de fogão. Bolei.
-Porra, você tá sentado em algum fio desencapado. Falei. - Levanta o rabo daí.
-Fio desencapado no teu cú. Chega aqui pra ver o choque? Eu quase tostei a Karen. É Ele que tá agarrado em mim. Falou Carlinho se levantando e cambaleando.
-Ele quem maluco?
- Ele! Porra, pega esse travesseiro e bate nas minhas costas pra Ele desgarrar.
-Hã? Como assim?
-Bate porra, bate em minhas costas. Anda logo.

Comecei a bater nas costas do Carlinho, e ele pedindo mais. Porra, já estava largando umas boas porradas, nisso a toalha já tinha caído há muito tempo. De repente passa uma faxineira com um carrinho cheio de vassouras, rodos, essas porras.
-MOLUSCO! Pega uma vassoura ali, anda! Berrou Carlinho.

Fui lá e tomei do carrinho uma senhora vassoura. Mirava nas costas do Carlinho e largavo o braço, parecia jogador de beiseball, ele gritava como um porco com a porra do cabelo em pé. Dei umas 6 porradas quando ele berrou: -Desgarrou porra! Vou pro chuveiro!

-Que chuveiro? Tá louco? Você vai morrer eletrocutado. Gritei nu e cansado.

Olhei para Karen e ela estava em pânico. Olhei para a mulher da faxina e ela estava rindo com sua boca sem dentes. Se a gente trabalhasse limpando merda, sangue e gozo também riria. Corri pra ver o Carlinho no chuveiro. Ele estava desmaiado, mas estava vivo.

Voltei, fechei a porta e perguntei a Karen o que houve. Ela falou chorando:
-Cara, a gente já estava nu, na cama e falei pra ele que fui num pai de santo.
Pensava no porquê dela falar sobre isso naquela hora, mas fiquei na minha.
-hmmm e aí?
-Aí falei que o pai de santo me disse que uma entidade queria falar comigo. Aí o Carlinho virou a pele dos olhos pra cima, assim ó, e falou: -Eu sou a entidade, vou te comer é agora porra! Daí ele começou a me dar choque, foi isso.

Caralho. Não sabia o quê pensar. De repente aparece Carlinho nu, cena estranha por acaso, perguntando o que houve. Simplesmente não lembrava de nada.
Peguei minhas coisas, pagamos e entramos no carro, silêncio sinistro, ameacei pegar a fita Mutantes com Bate Macumba para zoar com a situação, nessa hora me correu um arrepio que foi da nuca até o rabo, desisti da brincadeira.

Voltamos no silêncio e sem comer ninguém.

FIM